1. A jornada de Idanha-a-Nova: do declínio rural a uma referência Europeia.

No interior de Portugal, na fronteira com Espanha, Idanha-a-Nova representa uma das histórias demográficas mais marcantes da Europa. Apesar de abranger 1.416 km² (o segundo maior município de Portugal), alberga pouco mais de 8.000 habitantes, tornando-se um dos territórios com menor densidade populacional do país, com apenas 6,2 habitantes por km².

O contraste entre a sua vasta geografia e a população em declínio é notável. Idanha, outrora lar de 35.000 pessoas, perdeu 70% dos seus habitantes ao longo de cinco décadas, um declínio dramático que ameaçava a sua vitalidade económica, a capacidade de prestação de serviços e a sustentabilidade a longo prazo.

Imagem: Mapa de Portugal e localização de Idanha-a-Nova, Bloom Consulting © Desde 2003

Em 2013, Idanha-a-Nova tornara-se um símbolo dos desafios estruturais, enfrentados por Portugal e até pelo interior rural europeu:

  • décadas de emigração,
  • tendência demográfica negativa,
  • perceção de ter “ficado para trás”,
  • visibilidade limitada para além das fronteiras regionais.

No entanto, foi precisamente por causa destes desafios que Idanha oferecia algo raro: uma oportunidade única de redefinir o que os territórios rurais podem alcançar, através de uma estratégia de Place Branding.

Imagem: Variação da população

O envolvimento da Bloom Consulting a partir de 2014

Em 2013, o Presidente da Câmara Municipal contactou a Bloom Consulting com uma questão audaciosa: seria possível um pequeno município rural em declínio, redefinir a perceção do meio rural e voltar a atrair pessoas, empresas e oportunidades?

Em 2014, a Bloom Consulting iniciou um processo diagnóstico abrangente que incluiu:

  • uma auditoria territorial completa,
  • consultas com stakeholders internos e externos,
  • estudos de perceção nas principais cidades portuguesas,
  • análise Digital Demand©,
  • trabalho de campo e benchmarking.
Imagem: Âmbito do projeto Estratégia de Marca Territorial 2014, Bloom Consulting © Desde 2003

Este trabalho conduziu ao desenvolvimento de uma Estratégia de Place Branding de longo prazo, estruturada em torno de uma Ideia Central: “Recomeçar em Idanha”, um lugar onde qualquer pessoa pode começar de novo, rodeada de natureza e de oportunidades.

Place Brand Wheel© da Bloom Consulting, Bloom Consulting© Desde 2003

Longe de se tratar de uma campanha de marketing, esta foi uma estratégia estrutural, traduzida em quatro programas emblemáticos – Idanha Live, Idanha Try, Idanha Green Valley e Idanha Made In – cada um concebido para promover a recuperação demográfica, a revitalização económica e a mudança de perceção.

O envolvimento da Bloom Consulting não terminou com a entrega da estratégia. Ao longo da década seguinte, a Bloom manteve-se como um parceiro próximo, apoiando:

  • a implementação,
  • a medição através das metodologias D2,
  • os ajustes face às condições em evolução,
  • e as avaliações de impacto, incluindo o importante estudo comparativo 2014-2025, sobre perceções nacionais e intenção de migração.

Esta continuidade – desde o diagnóstico, ao planeamento e até ao apoio prolongado ao longo de dez anos – criou a base para uma das histórias de sucesso de Place Branding rural, mais notáveis na Europa.

2. O fim do mito rural: como os pequenos territórios PODEM competir e vencer

Como Idanha-a-Nova transformou limitações em oportunidades

Quando Idanha-a-Nova iniciou a sua jornada de Place Branding, enfrentava não apenas o declínio demográfico, mas também um mito persistente e enraizado: de que os territórios rurais são, por natureza, desfavorecidos, incapazes de competir com os centros urbanos na atração de talento, investimento ou atenção. Durante décadas, as narrativas nacionais reforçaram a ideia de que a inovação pertencia às cidades, enquanto o interior estava condenado a desaparecer silenciosamente na irrelevância. Idanha-a-Nova recusou desde o início aceitar essa narrativa.

Reformulação da ruralidade: de limitação a proposta de valor

A mudança estratégica central ocorreu quando o município – com o apoio da Bloom Consulting – redefiniu a sua própria identidade. Em vez de tentar imitar cidades, Idanha assumiu aquilo que a tornava única:

  • espaço, natureza e tranquilidade,
  • comunidades autênticas,
  • um estilo de vida mais calmo e saudável,
  • um território vasto e intacto,
  • um património cultural e ambiental de riqueza extraordinária,
  • e uma vontade política de inovar.

Estes elementos deixaram de ser obstáculos e passaram a constituir vantagens competitivas, num mundo cada vez mais atento à sustentabilidade, ao bem-estar e ao equilíbrio.

Idanha transformou um contexto aparentemente impossível, numa promessa audaciosa e diferenciadora: aqui, pode recomeçar a sua vida, o seu negócio ou o seu futuro – num lugar suficientemente grande para a sua ambição e suficientemente pequeno para se preocupar.

Esta reformulação foi poderosa porque se alinhou perfeitamente com tendências globais emergentes: o trabalho remoto, a procura de qualidade de vida, a valorização da natureza e o crescimento da migração, orientada por propósito.

Uma nova narrativa para uma nova ruralidade

Em vez de aceitar o fatalismo associado às zonas rurais em declínio, Idanha posicionou-se como um inovador rural, um laboratório para novas ideias e um território onde a mudança não é apenas possível, mas bem-vinda. O município aproveitou a sua dimensão – sendo um dos maiores territórios de Portugal (duas vezes o tamanho de Madrid) – como um símbolo de oportunidade e potencial.

Através do programa Green Valley, a ruralidade tornou-se sinónimo de inovação. Através do Idanha Try, tornou-se um ambiente de baixo risco para experimentação. Através do Idanha Live, passou a ser uma escolha clara de estilo de vida. Através do Idanha Made In, tornou-se uma marca.

Imagem: Idea Central da Marca Territorial, Bloom Consulting © Desde 2003

Quebrar o mito: evidência, não teoria

O que Idanha demonstrou, de forma definitiva e com resultados mensuráveis, é que os pequenos territórios não só podem competir como também vencer, desde que:

  • conheçam a sua identidade,
  • invistam de forma consistente na sua marca,
  • e construam um sistema de governança, que assegure a sobrevivência da marca ao longo dos ciclos políticos.

Os resultados ao longo de dez anos falam por si:

  • Mais pessoas conhecem Idanha.
  • Mais pessoas consideram viver no município.
  • Mais empresas escolhem operar no território.
  • Mídia, investidores e instituições internacionais passaram a olhar para Idanha como referência.

Um pequeno município rural tornou-se numa referência europeia, derrubando a ideia de que apenas grandes cidades, com orçamentos elevados, podem moldar o seu futuro através do Place Branding.

3. Um município com visão. Mais de 10 anos de compromisso político e comunitário

Implementação a longo prazo como verdadeiro diferencial. Foco e compromisso

O sucesso do Place Branding não depende de um documento estratégico, de um novo logótipo ou de uma campanha. O verdadeiro êxito assenta na governança, consistência e tempo – três elementos raros na administração pública, mas essenciais para a transformação.
Idanha-a-Nova é um dos exemplos mais claros do que acontece quando um município se compromete, de forma inabalável, com uma visão de longo prazo.

Vontade política: a faísca que deu início ao processo

Quando Idanha convidou a Bloom Consulting em 2013, não foi motivada por incentivos políticos de curto prazo, mas por um profundo reconhecimento de que o município precisava de uma solução estrutural para um problema estrutural. A administração compreendeu que inverter o declínio demográfico não seria uma tarefa de meses ou anos, mas de uma década ou mais.

Esta maturidade política destacou Idanha desde o início. Em vez de procurar resultados imediatos, o município assumiu a verdade incómoda, mas necessária: o território precisava de uma nova narrativa, de novas ferramentas, de novos programas e de uma nova mentalidade.
Poucos municípios pequenos conseguem manter coerência ao longo de ciclos eleitorais. Idanha conseguiu, e isso fez toda a diferença.

Imagem: Capa do livro de estratégia de Idanha-a-Nova. Uma estratégia concebida no horizonte temporal de 2015-2025. Bloom Consulting © Desde 2003.

Governança: o motor, muitas vezes invisível, por detrás do sucesso

Um dos fatores mais decisivos por trás dos resultados de longo prazo de Idanha, foi a criação de um modelo estruturado de implementação.
O município constituiu uma equipa dedicada de colaboradores municipais, responsável pela execução dos programas da estratégia e pela gestão da extensa lista de projetos.

Imagem: A estrutura completa dos projetos nos 4 programas principais. Bloom Consulting © Desde 2003.

Esta estrutura institucional garantiu que a Estratégia de Place Branding não fosse apenas uma “visão”, mas uma realidade operacional dentro do município. Sobreviveu a mudanças de prioridades, de orçamentos e até a crises externas, como a pandemia. Tornou-se parte do ADN de Idanha.

Envolvimento da comunidade: construir uma visão partilhada

A estratégia não se manteve confinada à câmara municipal; viveu na comunidade. Desde os primeiros workshops com atores locias e visitas de campo, até à colaboração com empresários, escolas, instituições de saúde, produtores agrícolas e associações, Idanha assegurou que o Place Branding não fosse desenhado para a comunidade, mas com a comunidade.

Esta abordagem participativa garantiu que a Marca Territorial de Idanha não fosse imposta, mas co-criada, transmitindo aos habitantes orgulho, sentido de pertença e propósito. Assim, a identidade de Idanha-a-Nova deixou de ser apenas uma marca para se tornar um verdadeiro movimento.

Imagem: Bloom Consulting, município e comunidade a trabalhar em conjunto na Ideia Central em 2014. Bloom Consulting © Since 2003
Imagem: Idanha-a-Nova Food Lab 2022 – um projeto do programa Idanha Green Valley. Bloom Consulting © Desde 2003.

Consistência ao longo de uma década: o ingrediente mais raro

A história de Idanha-a-Nova não é a de uma transformação espetacular da noite para o dia. É uma história de:

  • implementação consistente,
  • investimento paciente,
  • medição rigorosa,
  • e perseverança, mesmo quando os resultados não eram imediatos.

Num contexto de políticas frequentemente orientadas por ciclos de curto prazo, Idanha tomou uma decisão rara: comprometer-se desde o início a uma jornada de 10 anos e mantê-la. É por isso que os resultados que hoje se observam em perceções, procura, atração e reconhecimento, não são fruto do acaso. São o resultado direto de uma década de disciplina estratégica.

4. A prova está nos dados: como Idanha reverteu as perceções, a procura e a demografia

Os dados revelam uma década de transformação

Avaliar o impacto de longo prazo da Estratégia de Place Branding de Idanha-a-Nova exigiu uma abordagem rigorosa e multidimensional. Por esse motivo, a Bloom Consulting recorreu a três fontes de dados complementares: inquéritos de perceção D2 LiveQuanti®, dados comportamentais de pesquisa D2 Digital Demand® e indicadores de desempenho municipal, recolhidos ao longo da implementação da estratégia “Recomeçar”. Em conjunto, estas fontes permitiram ao município, não apenas medir como as pessoas percebem Idanha, mas também como se comportam em relação a ela e de que forma essas perceções se traduzem, em última instância, em resultados económicos e sociais reais.

A. Perceção, familiaridade e intenção de mudança segundo o D2 LiveQuanti®.

O D2 LiveQuanti® é a metodologia baseada em inquéritos da Bloom Consulting, utilizada para analisar níveis de conhecimento, perceções, associações e intenção de migração entre os residentes das principais áreas urbanas de Portugal. No caso de Idanha, foram realizados dois inquéritos comparáveis: o primeiro em 2014, antes da implementação da Estratégia de Place Branding, e o segundo em 2025, após uma década de trabalho contínuo.

A diferença entre estes dois momentos conta uma história poderosa. Em 2014, a familiaridade com Idanha-a-Nova era limitada: apenas cerca de um terço dos inquiridos tinha ouvido falar do município (32%). Em 2025, esse número subiu para mais de metade (51%), refletindo uma melhoria substancial na visibilidade nacional.

Mais importante ainda, as perceções sofreram uma mudança dramática. As associações positivas, que em 2014 representavam apenas cerca de um quarto das opiniões, passaram a constituir a maioria, subindo de 26% para 59%, enquanto a pequena parcela de perceções negativas, registada em 2014, tinha desaparecido por completo em 2025.

Talvez o dado mais impressionante diga respeito à intenção de migração: a vontade de se mudar para Idanha (após a apresentação do território) subiu de 22% para 70%. Esta evolução demonstra que, para além do conhecimento e da reputação, Idanha apresenta-se cada vez mais como um lugar onde as pessoas se imaginam a viver.

Os resultados do inquérito confirmam que a estratégia não só melhorou a perceção sobre Idanha, como também ampliou aquilo que o território representa na imaginação nacional: de um município rural em declínio a uma alternativa credível de estilo de vida.

B. Crescimento das pesquisas segundo o D2 Digital Demand®

Se os inquéritos de perceção revelam o que as pessoas dizem, o comportamento digital mostra o que realmente fazem. O D2 Digital Demand® é a ferramenta proprietária da Bloom Consulting que mede, em tempo real, o interesse por um território através da análise de milhões de consultas, em motores de pesquisa. Permite identificar o que os indivíduos procuram, quais os temas que despertam a sua curiosidade e como estes padrões evoluem ao longo do tempo. No caso de Idanha-a-Nova, fornece uma visão objetiva de como a relevância do território mudou entre 2013 e 2024.

Os dados comportamentais confirmam um aumento consistente e de longo prazo do interesse. As pesquisas online relacionadas com Idanha cresceram quase seis vezes entre 2013 e 2024 (588%), refletindo a consolidação e visibilidade da marca. Para além disso, a natureza destas pesquisas evoluiu. Enquanto a vida rural dominava inicialmente o perfil de interesse, nos últimos anos a procura diversificou-se para áreas como cuidados de saúde, património histórico, oportunidades de emprego, empreendedorismo e negócios, e qualidade de vida. Esta expansão indica que Idanha é cada vez mais percebida como um território multifacetado, onde se pode viver, investir, trabalhar e desenvolver projetos, e não apenas como um destino rural.

É igualmente notável a transformação geográfica da procura digital. Há dez anos, o interesse internacional representava apenas uma pequena parte das pesquisas. Hoje, quase um quarto provém de fora de Portugal, com mais de 30 países a demonstrar envolvimento consistente com o município. Esta internacionalização do interesse é rara para um território rural do tamanho de Idanha e evidencia a força do seu posicionamento como inovador rural.

Imagem: Resultados do D2 Digital Demand© desde 2013 a 2024

C. Resultados económicos e sociais segundo os dados de desempenho municipal.

Para além das perceções e do comportamento digital, o verdadeiro critério de sucesso de uma Marca Territorial reside na sua capacidade de gerar resultados concretos. Os dados municipais recolhidos ao longo da implementação da estratégia “Recomeçar” demonstram uma ligação clara entre a evolução da imagem de Idanha e resultados concretos no território. Mais de mil pessoas contactaram formalmente o município manifestando interesse em mudar-se para Idanha, tendo sido acompanhadas pelas equipas locais de apoio ao “recomeço”. Mais de trezentas empresas iniciaram ou transferiram as suas operações para Idanha, beneficiando das condições criadas pela estratégia. Estas iniciativas empresariais criaram, ou encontram-se em processo de criação, de mais de trezentos novos postos de trabalho e representam, em conjunto, um potencial de investimento estimado em 29 milhões de euros. Estes números são particularmente relevantes para um município com apenas 8.000 habitantes, demonstrando que a regeneração demográfica e económica não só é possível, como já se encontra em curso.

Um dos resultados mais significativos e simbólicos da última década é a inversão da curva demográfica de Idanha-a-Nova. Após mais de cinquenta anos de perda contínua de população, o município alcançou finalmente o equilíbrio migratório, assinalando, pela primeira vez em décadas, que o número de pessoas que chegam é igual ou superior ao das que saem.

Este ponto de viragem não representa uma flutuação passageira, mas sim o resultado cumulativo da melhoria das perceções, do aumento do interesse nacional, da diversificação das oportunidades económicas e dos programas estruturados de apoio à fixação e integração. Num contexto europeu em que o despovoamento rural continua a ser dominante, a estabilização demográfica de Idanha — e os primeiros sinais de renovação — constitui um dos indicadores mais claros de que a Estratégia de Place Branding do território produziu um impacto duradouro e estrutural.

D. Resultados ao nível da comunidade e da visibilidade segundo análises digitais e mediáticas.

Por fim, a evolução da presença de Idanha nos meios digitais e na comunicação social tradicional, ilustra a consolidação do seu perfil público. Os canais de redes sociais do município registaram um crescimento exponencial, em particular no Facebook, onde a audiência passou de apenas alguns milhares de seguidores em 2014, para perto de cem mil atualmente, um número que posiciona Idanha entre os 10 municípios mais seguidos de Portugal. Este nível de envolvimento, sem precedentes, reflete simultaneamente o orgulho da comunidade local e a curiosidade externa.

A visibilidade mediática seguiu uma trajetória semelhante. Mais de 150 notícias publicadas, uma presença significativa em televisão e milhões de euros em valor mediático estimado, contribuíram para transformar a narrativa sobre Idanha, passando de uma história de declínio para uma de inovação e oportunidade. Estes indicadores de comunicação reforçaram o impulso gerado pela estratégia de marca e ampliaram o seu alcance junto de públicos nacionais e internacionais.

Imagem: Principais notícias em Portugal que apresentam a estratégia.

Uma transformação orientada por dados

Quando analisadas em conjunto, estas três fontes de dados — inquéritos de perceção, análise do comportamento digital e indicadores de desempenho municipal — traçam um retrato consistente e convincente. Ao longo da última década, Idanha-a-Nova tornou-se mais conhecida, melhor percecionada, mais pesquisada, mais atrativa para potenciais residentes e mais eficaz na geração de atividade económica e social. A estratégia não se limitou a alterar perceções; mudou comportamentos. E não só mudou comportamentos, como transformou o próprio município.

5. Um pequeno município no palco europeu

Dez anos após o lançamento da Estratégia de Place Branding de Idanha-a-Nova, os esforços do município não só transformaram a realidade local como também captaram a atenção internacional. O que começou como uma tentativa ambiciosa de inverter o declínio demográfico num território rural de Portugal, evoluiu para um caso de estudo referido por especialistas na Europa e além-fronteiras. Dois reconhecimentos ilustram a crescente projeção do percurso de Idanha: a distinção “Highly Commended” no City Nation Place (CNP) e a classificação da estratégia de Idanha como uma Boa Prática pelo programa URBACT.

Ambos os reconhecimentos são relevantes, embora por razões distintas. Em conjunto, demonstram que os resultados alcançados por Idanha não são apenas locais, mas também globalmente relevantes.

City Nation Place: um palco global para a excelência em Place Branding

O City Nation Place é uma das principais plataformas mundiais de reconhecimento de excelência em Place Branding, atraindo candidaturas de capitais, regiões e grandes cidades de todo o mundo. Ser altamente recomendado como Marca Territorial do ano colocou Idanha-a-Nova entre as marcas territoriais com melhor desempenho a nível internacional, um feito notável para um município rural com apenas 8.000 habitantes e recursos financeiros limitados.

Esta distinção atribuída pelo CNP validou a solidez da estratégia, reconhecendo a forma como Idanha conseguiu alinhar identidade, governança, visão de longo prazo e dados, algo que muitos territórios maiores e mais dotados de recursos têm dificuldade em alcançar. Para a comunidade de Place Branding, o reconhecimento de Idanha foi uma lembrança de que marcas fortes não dependem da dimensão, da notoriedade ou do orçamento, mas sim da autenticidade e da disciplina estratégica.

O CNP colocou Idanha no mapa global. O URBACT, contudo, foi ainda mais longe: posicionou Idanha como um modelo para outros territórios.

O que é o URBACT e porque é tão relevante para Idanha

O URBACT é o principal programa da União Europeia dedicado ao desenvolvimento, avaliação e disseminação de estratégias urbanas inovadoras, sustentáveis e participativas. Identifica iniciativas locais em toda a Europa, que demonstram impacto real e comprovada transferibilidade, promovendo-as como Boas Práticas para inspirar outros municípios.

Ser selecionada como uma Boa Prática significa que a estratégia de Idanha não é apenas eficaz, mas também replicável. O URBACT aplica critérios rigorosos antes de atribuir esta distinção: as estratégias selecionadas devem evidenciar transformação mensurável, governança sólida, envolvimento da comunidade e potencial para servir de modelo a outras cidades europeias. Idanha cumpriu todos estes requisitos.

Para Idanha-a-Nova, este reconhecimento é particularmente significativo, pois confirma que o município, apesar da sua dimensão, não está apenas a transformar-se a si próprio, mas também a contribuir para o futuro das políticas europeias, para os territórios rurais.

E a escala é o ponto-chave

O município mais pequeno, num catálogo europeu de boas práticas.

Ao analisar as anteriores Boas Práticas do URBACT, verifica-se que a maioria provém de cidades médias ou grandes: territórios com economias diversificadas e equipas administrativas extensas. Neste contexto, Idanha-a-Nova destaca-se de forma inequívoca. Com apenas 8.000 habitantes, é quase certamente o município mais pequeno alguma vez selecionado como Boa Prática URBACT, uma distinção que sublinha o caráter excecional da sua estratégia.

Este facto é relevante pois transmite uma mensagem poderosa à Europa: os pequenos municípios não são apenas objetos de políticas pública, podem ser autores dessas políticas.

A seleção de Idanha quebra estereótipos relacionados com capacidade, escala e relevância. Demonstra que a inovação não pertence exclusivamente aos grandes centros urbanos. Mostra que os territórios rurais também conseguem conceber e implementar estratégias capazes de alterar perceções, atrair pessoas e investimento e mudar o seu percurso de desenvolvimento.

O reconhecimento do URBACT eleva Idanha-a-Nova de um sucesso local a uma referência europeia. Ao longo de 2024 e 2025, o trabalho do município será promovido nos canais de comunicação do URBACT, partilhado em fóruns internacionais e estudado por cidades que procuram novas ferramentas para enfrentar o despovoamento, o declínio rural e os desafios de perceção. O convite para apresentar o seu percurso no URBACT City Festival 2025, em Wroclaw, não é apenas uma honra; é uma oportunidade para Idanha inspirar e orientar outros territórios em toda a Europa.

Um município rural como referência pedagógica europeia

Para um território outrora visto como demasiado pequeno, demasiado remoto, envelhecido ou pouco povoado, Idanha-a-Nova inverteu por completo essa lógica. Hoje, afirma-se como uma referência para a Europa, demonstrando, na prática, que com visão, governança e persistência, até o mais pequeno município pode redefinir o seu destino e influenciar outros.

No panorama europeu do Place Branding, Idanha ocupa agora uma posição singular. O City Nation Place mostrou que o município está entre os melhores do mundo. O URBACT demonstrou que Idanha pode ajudar outros territórios a chegar lá.

6. Lições de Idanha: um guião para a transformação rural

A transformação de Idanha é frequentemente descrita como notável, mas o seu sucesso não foi acidental. Nem resultou de um projeto isolado, de uma personalidade ou de uma campanha. Emergiu de uma combinação de identidade, governança, persistência e metodologia; uma combinação que pode ser replicada noutros territórios. Se Idanha se afirma hoje como uma das histórias de sucesso rural mais inspiradoras da Europa, isso deve-se à aplicação consistente de alguns princípios essenciais.

O primeiro fator por detrás do sucesso da estratégia foi a decisão de partir da identidade, e não da invenção. Idanha não tentou tornar-se algo que não era. Pelo contrário, assumiu a essência do território: a sua ruralidade, tranquilidade, dimensão e a relação íntima com a natureza. A marca “Recomeçar em Idanha” não surgiu de uma projeção externa, mas de um reconhecimento interno: uma compreensão partilhada de que Idanha podia ser um lugar de novos começos. Esta base autêntica conferiu à marca credibilidade, coerência e ressonância emocional, funcionando como uma bússola que orientou todas as decisões, projetos e comunicações ao longo da década.

O segundo fator foi a governança. Muitos municípios formulam visões ambiciosas, mas poucos conseguem criar a estrutura administrativa necessária para as implementar de forma consistente. Idanha conseguiu. O município institucionalizou a Estratégia de Place Branding através da criação de uma equipa dedicada, da integração da marca nas decisões políticas e da garantia de continuidade ao longo dos ciclos eleitorais. Este compromisso de longo prazo transformou a estratégia em realidade, ano após ano. Sem governança, o Place Branding é um slogan; com governança, torna-se transformação.

Outro elemento crucial foi a medição. Desde o início, Idanha compreendeu que uma marca não pode ser gerida sem dados. Através da utilização dos inquéritos de perceção D2 LiveQuanti®, da análise comportamental D2 Digital Demand® e de indicadores contínuos de desempenho municipal, o município conseguiu acompanhar a sua evolução, validar decisões e ajustar a abordagem ao longo do tempo. A medição evitou a estagnação, criou responsabilização, comprovou impacto e demonstrou a residentes, investidores e instituições que a estratégia era simultaneamente séria e eficaz.

Outro fator determinante do sucesso de Idanha foi a adoção da participação como princípio central. A marca não foi imposta; foi co-criada através de workshops, consultas, visitas de campo e colaborações com cidadãos, empreendedores, agentes educativos e líderes culturais. Este processo participativo não só enriqueceu a estratégia, como gerou um forte sentimento de apropriação coletiva. As pessoas defendem aquilo que ajudam a construir. Com o tempo, a marca deixou de ser apenas uma narrativa municipal para se tornar um verdadeiro movimento comunitário.

Por fim, Idanha prosperou porque aceitou uma das verdades mais frequentemente ignoradas no Place Branding: a mudança real exige tempo. O município resistiu à tentação do curto prazo, permitindo que a marca amadurecesse, que os programas criassem raízes e que as perceções evoluíssem gradualmente. Ao fazê-lo, Idanha demonstrou algo raro: paciência. E a paciência, aliada à consistência, transformou-se em impacto.

Estas lições constituem a essência do guião de Idanha para outros territórios pequenos e rurais: partir da identidade, construir uma governança que sobreviva aos ciclos políticos, medir de forma sistemática, envolver a comunidade e, acima de tudo, assumir um compromisso de longo prazo.

A história de Idanha-a-Nova demonstra que a transformação não pertence exclusivamente às grandes cidades ou às regiões mais poderosas. Com a estratégia certa e uma dedicação inabalável, até o mais pequeno município pode redefinir o seu futuro e inspirar outros a fazer o mesmo.

7. Conclusões e perspetivas: Idanha-a-Nova e o futuro do Place Branding rural

Os resultados falam por si. Idanha deixou de ser um símbolo de abandono rural e tornou-se um ponto de referência, tanto a nível nacional como internacional, em inovação rural, qualidade de vida, empreendedorismo e vitalidade cultural. Mudou a forma como os cidadãos a percecionam, como o país fala dela, como as pessoas a procuram e como empresas e famílias escolhem relacionar-se com o município. Idanha conseguiu aquilo que muitos julgariam impossível: reverter o declínio não através da imitação de cidades, mas através de um profundo entendimento e afirmação da sua própria essência.

Contudo, talvez o maior feito da última década não se encontre nos dados, mas na mudança de mentalidade que Idanha inspirou. A crença de que os pequenos territórios rurais não podem competir, inovar ou atrair novas populações foi completamente desconstruída. Idanha provou que uma identidade forte, articulada com clareza e apoiada por governança, pode ser mais poderosa do que o tamanho, a escala ou a geografia. Não é o número de habitantes que determina o potencial de um território, mas a visão e a persistência da sua população.

Olhando para o futuro, Idanha-a-Nova entra numa nova fase, marcada não pela urgência da reconstrução, mas pela oportunidade de consolidação e liderança. O reconhecimento pelo City Nation Place e a distinção como uma Boa Prática pela URBACT, abrem novas portas à colaboração internacional, à partilha de conhecimento e a parcerias estratégicas. Estes reconhecimentos colocam Idanha numa posição de influência sobre a forma como as políticas rurais, a regeneração demográfica e a inovação territorial são compreendidas em toda a Europa.

A próxima década trará novos desafios: adaptação climática, evolução do trabalho remoto, transições geracionais e a necessidade contínua de atrair e reter residentes. Mas Idanha já não parte de uma posição vulnerável. Atua a partir de uma posição de força, com uma estratégia comprovada, uma comunidade comprometida e uma identidade renovada que continua a ressoar a nível nacional e internacional. A base está sólida, as ferramentas estão implementadas e a marca está viva.

A história de Idanha-a-Nova é, em última análise, uma história de crença: crença de que os territórios rurais são importantes; crença de que a identidade pode impulsionar o desenvolvimento económico; crença de que os pequenos territórios podem liderar pelo exemplo.

Idanha-a-Nova não se limitou a recomeçar. Redefiniu o que é possível

Para uma descrição detalhada do design original da estratégia e dos primeiros resultados, consulte o primeiro estudo de caso sobre Idanha-a-Nova no Bloom Consulting Journal: “Como uma estratégia de Marca trouxe Talento e Negócios a Idanha-a-Nova”. Pode também explorar a própria plataforma do município, “Recomeçar em Idanha”, em idanha.pt/recomecar.

Citar artigo:  Bloom Consulting (2025): Idanha-a-Nova: 10 anos de uma estratégia de Place Branding que resultou. Bloom Consulting Journal, 18 de dezembro. Disponível em: https://www.bloom-consulting.com/journal/pt-pt/idanha-a-nova-estrategia-place-branding/

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