Este artigo baseia-se no artigo académico “Artificial Intelligence” de Filipe Roquette, que explora, de que forma a IA está a redefinir a gestão, promoção e perceção dos territórios. Neste artigo o Filipe aprofunda a análise sobre como as ferramentas impulsionadas por IA, desde a gestão de reputação em tempo real, até à análise preditiva, podem transformar a forma como Países e Cidades constroem, gerem e protegem as suas marcas, num mundo em constante mudança.

Para uma análise mais aprofundada e acesso a exemplos detalhados, pode consultar o artigo completo de Filipe Roquette na Elgar Encyclopedia of City and Place Branding.

Branding ≠ Marketing

A Bloom Consulting estabelece uma distinção clara entre branding e marketing:

  • Place Branding → Perceção = Influência + Experiência
  • Place Marketing → Procura = Promoção

O papel mais poderoso da IA reside no branding, não no marketing. Permitindo aos territórios, medir perceções em tempo real, antecipar mudanças na reputação e cocriar narrativas com os diferentes atores locais. Enquanto o marketing continua a focar-se em estimular a procura através da promoção, o branding pretende moldar a forma como as pessoas pensam e sentem um território e é aqui que a IA oferece ferramentas inovadoras, que se destacam verdadeiramente.

De que forma a IA transforma o Place Branding

1. Análise da perceção em tempo real

A IA consegue processar grandes volumes de dados provenientes das redes sociais, avaliações e notícias globais, oferecendo perceções atualizadas em tempo real, sobre a forma como um território é visto. Isto complementa o conceito de Identidade Digital da Bloom Consulting, permitindo aos governos e entidades públicas, medir como a influência (exposição indireta) e a experiência (interações diretas) evoluem diariamente.

Ciclos de atualização:

  • Diário/Semanal: Social listening, monitorização da identidade digital.
  • Trimestral: Comparação entre campanhas vs. alterações na perceção.
  • Anual: Inquéritos, rankings e análises longitudinais.

2. Modelação preditiva de tendências

Em vez de reagir a mudanças, a IA permite antecipá-las. Modelos preditivos ajudam a prever fluxos turísticos, tendências de investimento e novos segmentos de audiência. O Nation Brand Taxonomy Model © da Bloom Consulting oferece um modelo de estrutura organizado, que divide a marca de um país ou território em dimensões claras, como turismo, comércio, investimento, talento e diplomacia, facilitando o alinhamento entre os insights gerados por IA e as prioridades estratégicas de longo prazo. Quando combinada com este modelo, a IA garante que as estratégias são simultaneamente orientadas para o futuro e ancoradas em dimensões estruturadas de marca.

Bloom Consulting Taxonomy model

3. Hiper segmentação e campanhas adaptativas

A segmentação tradicional baseava-se sobretudo em dados demográficos; com a IA, torna-se possível identificar micro audiências através de comportamentos e paixões (por exemplo, “entusiastas de arte urbana que praticam surf”). As campanhas podem, assim, ajustar-se em tempo real, reforçando a ligação emocional e garantindo que as iniciativas de branding acompanham a evolução das perceções.

4. Envolvimento de Stakeholders em escala

Plataformas colaborativas impulsionadas por IA, permitem que residentes, empresas e agentes culturais cocriem estratégias. Ao analisar feedback em tempo real, os territórios conseguem garantir que as iniciativas refletem simultaneamente a identidade local e as aspirações globais.

Oportunidades e riscos

A IA abre portas para a promoção personalizada, experiências imersivas (via RA/RV) e uma gestão territorial mais eficiente. No entanto, permanecem desafios importantes:

  • Desvios de dados e alucinações: Bases de dados imperfeitas podem distorcer perceções.
  • Homogeneização cultural: Otimizar em excesso para uma atração global, pode diluir identidades locais.
  • Responsabilidade ética: Quem responde por decisões suportadas por IA em campanhas de branding?

Futuro do Place Branding

A IA não é apenas mais uma ferramenta — redefine as próprias metodologias de Place Branding. Ao integrar os modelos conceptuais da Bloom Consulting com as capacidades da IA, os territórios podem gerir perceções com maior precisão, adaptar estratégias de forma dinâmica e envolver os públicos, de forma mais significativa.

O futuro do Place Branding será moldado pela capacidade de combinar inteligência orientada por dados, com autenticidade humana. Os territórios que alcançarem esse equilíbrio não só fortalecerão a sua marca, como também construirão reputações sustentáveis, capazes de refletir simultaneamente a relevância global e a identidade local.

Citar artigo: Bloom Consulting (2025): Inteligência Artificial e o Futuro do Place BrandingBloom Consulting Journal, 27 de novembro. Disponível em: https://www.bloom-consulting.com/journal/pt-pt/ia-no-place-branding/

Filipe Roquette
Filipe tem colaborado com a Bloom Consulting em vários projetos desde 2008 e, em 2013, tornou-se o Diretor Geral da Bloom Consulting Portugal.