Embora o conceito de placemaking tenha sido desenvolvido ainda nos anos 1960 tendo como bases conceituais os trabalhos de Jane Jacobs e William Whyte, que pregavam uma cidade mais voltada para as pessoas do que para os carros ou prédios, o termo placemaking se popularizou de fato no século XXI em grande parte pelo trabalho do PPS, Project for Public Spaces que vem trabalhando consistentemente na proliferação da ideia onde as pessoas podem e devem apropriar-se dos espaços públicos, usando-os e qualificando-os, independente da ajuda do poder público. Essa abordagem também é conhecida como Urbanismo Tático.

Na Bloom Consulting, trabalhamos com a abordagem própria chamada Placemaking.ID®, que sobrepõe a identidade do lugar, universo de atuação do place branding à qualificação dos espaços públicos, universo de atuação do placemaking, numa atuação mais estratégica do que tática. Esse processo entende os lugares e empreendimentos imobiliários e sua relação com a cidade, sofrendo e promovendo influência no seu entorno, e que não são e nem querem ser ilhas.

Entendemos o placemaking como visão de mundo, justamente pela sua natureza pouco usual, principalmente ao empreendedor imobiliário, acostumado, muitas vezes, a pensar para dentro, não da empresa, mas do muro, um mal supostamente inevitável, mas que ainda assim precisa ser questionado.

Ao criar um lugar, e aqui vale lembrar mais uma vez que um lugar é um espaço dotado de significado pelas pessoas, é preciso entender a realidade das pessoas desse lugar, e por isso mesmo, compreender seu caráter único. Não existe placemaking replicável, uma vez que as pessoas não são as mesmas, não querem as mesmas coisas, não tem os mesmos sonhos, o mesmo comportamento, e por isso mesmo dá um trabalho danado fazer um único projeto, já que cada projeto, querendo ou não, é único.

Mas o que é um lugar no pós-pandemia?

O mundo, ou grande parte dele, sempre teve aversão ao risco. O medo da incerteza dispara o dilema instintivo: lutar ou fugir.

A Covid-19 nos mostrou que a segunda opção é inválida. Pela primeira vez na história não houve alternativa, jato particular, helicóptero executivo, iate luxuoso que nos levasse a um destino seguro, porque simplesmente não existia lugar seguro.

Foi preciso começar a pensar em mecanismos mais eficientes na luta contra futuras crises, ou se preferirem, sistemas antifrágeis. Antifragilidade é a capacidade que vai além da resiliência, e ao invés de retornar a condição anterior ao evento negativo, aprende com ele, se readapta, e, essa é a parte interessante do conceito: melhora, evolui.

Durante a pandemia foi impossível não pensar o que será dos lugares, das cidades, dos países, e como o place branding, placemaking e a ideia de “cidade antifrágil” poderiam ajudar nesse momento tão crítico.

Os lugares precisarão reinventar-se, reencontrar-se. Identidade e vocação nunca foram tão importantes. Entender o que as pessoas pensam, como elas se comportam nesse mundo outrora chamdo normal é vital. Mais do que isso, envolvê-las no processo é essencial.

Pensando nisso apontamos 7 pontos a serem considerados pelas cidades, lugares e países:

  1. Transparência é essencial

Uma das coisas que aprendemos com a pandemia é a necessidade de informações claras e coesas. Informações desencontradas, além de criar mais incertezas, contribuirão para uma reputação negativa do lugar, interna e externamente.

A tecnologia, poderosa aliada das cidades, países e governos em geral, será ainda mais importante, não existe solução tecnológica viável sem existir transparência nos processos.

2. As pessoas são atores e não meros espectadores

Outra lição obtida é que os cidadãos não são meros coadjuvantes. Enquanto grande parte dos fracassos ocorreram diante de decisões governamentais desastradas, exemplos de sucesso emergiram da comunidade. Redes de apoio foram criadas, movimentos solidários se espalharam pelo mundo.

Ela se deu na esfera das comunidades. Nunca foi tão evidente a necessidade de inclusão das pessoas no processo decisório. Comunidades fortes, com sólido senso de pertencimento, saíram-se melhor do que comunidades onde o senso de pertencimento simplesmente não existia.

Dar voz as pessoas é, em grande parte, contribuir na criação de comunidades fortes, mas ao mesmo tempo não basta só escutar, é preciso engajar, colaborar, cocriar.

3. Identidade e vocação fazem a diferença

Se durante anos falamos da importância desses elementos no fortalecimento dos lugares, a pandemia tratou de evidenciar essa prioridade.

Mais do que nunca os lugares precisarão buscar sua identidade, para que, através dela, possam retomar sua posição diante do novo momento. Será preciso mais do que nunca saber quem se é e o que se pode oferecer.

4. Entender a desterritorialização é urgente

Tão importante quanto preparar os lugares do ponto de vista físico, será entender que os lugares, tornaram-se também digitais. Lugares se tornaram ideias.

É possível experimentar a Finlândia de São Paulo, a Alemanha de Lisboa, e num caso real, experimentar as sempre brilhantes Ilhas Faroe, de qualquer lugar do mundo. Ou seja, se não pudermos ir aos lugares, teremos que levar os lugares até as pessoas e é essencial lidarmos com essa nova realidade. Território se transformou em suporte, apoio e não mais o lugar por si só.

5. Por mais incerto que seja é preciso uma visão de futuro

A única certeza que temos é que a Incerteza é o termo mais usado atualmente. Ainda que não possamos prever o futuro, por mais que tentemos, é necessário, ao menos, termos uma visão. Uma visão de lugar e, sim, uma visão de futuro.

É preciso começar pelo mais fácil, ou seja, uma visão do “presente” que envolva a identidade e claro, a colaboração. Visões são sempre compartilhadas, e claro, como já entendemos, cocriadas. Pensar no futuro é melhorar o presente, nunca precisamos tanto aprender e envolver disciplinas como futurismo, future thinking e strategic foresight no pensamento dos lugares.

6. Relações desmaterializadas para um mundo desterritorializado

Como vimos o território virou suporte, em parte pela forma como vivemos no pós-pandemia, trabalho remoto, tecnologia de comunicação popularizada, e-learning, e-comerce, e-residence, etc…

Esses movimentos mudaram nossa relação com a cidade, de puramente funcional para majoritariamente emocional. Não precisamos mais ir as ruas por obrigação, com isso surge o prazer de experimentar a cidade e com isso a necessidade de criarmos e gerenciarmos espaços públicos de maior qualidade e melhorarmos a experiência sensorial no ambiente urbano. Esse é um dos principais desafios do placemaking nos tempos atuais, solucionar coletivamente os problemas causados pelos novos comportamentos.

7. Processos e sistemas menos frágeis

E o gran finale da nossa lista é a antifragilidade, claro, no fundo a ideia que permeia todas as outras ideias. É preciso pensar em sistemas, plataformas, ferramentas mais amigáveis e dinâmicas, lembrando que segundo vários especialistas, essa pandemia não será a última.

É preciso entender, e não se trata mais de clarevidência, que as novas ameaças virão do futuro, e portanto, as ferramentas do passado não serão mais capazes de combatê-las.